'Quero Minha Mãe', de Adélia Prado, é uma narrativa “despedaçada”, como aqueles cadernos que usamos para escrever alguns pensamentos e guardamos na gaveta. Depois de dias, a gente se lembra dele, escreve mais alguma coisa e guarda novamente no mesmo lugar. Foi isto que percebi ao ler a obra. Na primeira folha, somos impactados: Olímpia é diagnosticada com câncer e discorre sobre isto em pensamentos soltos. A cada página é como se fôssemos levados pelo inconsciente — que na verdade está bem consciente — da autora. Cada página, um rabisco. Na época de lançamento, Adélia estava prestes a completar 70 anos. Uma vida inteira de experiências posta em poucas folhas de papel. A grande referência da autora durante a narrativa é, obviamente, a sua mãe. Num trecho, ela diz: “Estou me lembrando da minha mãe, morreu num mês de setembro, a três meses da minha formatura no ginásio, cercada de travesseiros, os lábios muito roxos, puxando o ar, minhas tias, meu pai, meus irmãos em volta”.