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Jumpin' Jack Flash!

Falando sobre filmes também! 😁

Jumpin’ Jack Flash (no Brasil, Salve-me Quem Puder) é um daqueles filmes bem trashinhos, bem anos 80, que nos deixam a pensar como era aquela época pré-internet e como as pessoas relacionavam naquele tempo. O filme é de 1986, uma época de muita revolução na música, na política, no cinema, nas artes; e por aí vai. Jumpin’ foi um dos primeiros filmes a apresentar a comunicação on-line como parte importante do enredo. Vamos à sinopse.




Whoopi Goldberg (sim! aquela de Mudança de Hábito) se chama Terry. Ela trabalha para um banco e usa os computadores para se comunicar com clientes em todo o mundo. Um dia ela recebe uma mensagem codificada de uma fonte desconhecida. Após a decodificação da mensagem, Terry se envolve em uma espiral de espionagem muito complicada. Algumas pessoas são mortas ou desaparecem, e Terry é perseguida. A todo momento ela continua em contato com essa pessoa desconhecida, que precisa de Terry para ajudar a salvar sua vida.

É possível dar vários enfoques para este filme. Por exemplo, falar sobre as vestimentas da época, dos objetos de decoração, dos estilos dos apartamentos, das ruas descoloridas de Nova York. Mas eu queria falar mesmo era da tecnologia. Tempos bons de MSDOS, cujo sistema era apenas de texto ou de “imagens” por meio dos códigos ASCII. É como se assistíssemos a uma peça rara de cinema que mostra claramente a época do “embrião” da internet supostamente doméstica. Isso porque a personagem da Whoopi usa o terminal dela para conversar com os colegas próximos, como se fosse um sistema de bate-papo. Se hoje em dia os “bate-papos” estão inseridos em nossas vidas, praticamente em nossas veias, por meio de WhatsApps e afins — naquela época esse tipo de comunicação ainda estava engatinhando. É como eles fossem os bisavôs das atuais formas de comunicação.

Mais interessante ainda é ver a personagem utilizar-se de fitas k7, assistir um filme antigo numa TV de tubo, usar um telefone público como se fosse a coisa mais útil a se fazer para enviar uma mensagem a alguém (por acaso, quando foi a última vez que você usou um orelhão?).

Uma cena que eu achei super engraçada e bem oitentista, ao ponto de brilhar os olhos e vir aquele sorriso de canto de boca, foi quando Terry conseguiu decifrar o código pedido pelo estranho para acessar um terminal seguro, no qual eles pudessem conversar sem ser descobertos. Assim que ela digita “B-Flat” (Si-Bemol), uma tela colorida com imagens de estrelas saindo da tela fica piscando o tempo inteiro. Lembrei daqueles joguinhos de MS-DOS que eu costumava ter em disquete lá em 1996. Os gráficos eram terríveis, mas vez ou outra o jogo mostrava alguma “evolução” tecnológica.

Eu poderia discorrer aqui sobre vários outros temas: feminismo da personagem naquela época, o uso constante de referências à cor da pele dela, as referências políticas daquela metade da década de 80 (principalmente por causa da Guerra Fria), etc. Mas isso fica para outro texto. 🙂

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